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Viver de forma plena: uma das lições da perda


Diariamente, a todo instante, crianças de todo o mundo vivenciam situações de perda das mais simples às mais significativas: um brinquedo quando ele se quebra, uma nota baixa na escola, um amigo que se muda de cidade, a separação dos pais. À medida que estas crianças crescem, a infância e a juventude são deixadas para trás, levando também vários sonhos. Paralelas ao envelhecimento, estão as perdas, desde coisas, sonhos, amigos à grandes amores.

A casa, o carro, o emprego, o dinheiro, a saúde, a beleza e até mesmo as pessoas amadas no final murcham ou acabam. Tudo isso porque ninguém é de ninguém. Tudo isso porque a vida é impermanente.

É comum ignorarmos e resistirmos às perdas sem a compreensão de que é impossível viver sem perder. É difícil pensar com esta certeza de que tudo é emprestado e um dia acaba. Por mais óbvio que seja o próprio fim da vida, temos a falsa sensação da eternidade. Existe um antigo ditado judeu que diz que, se dançarmos em muitos casamentos, iremos chorar em muitos funerais, ou seja, se estivermos presentes em muitos inícios, estaremos também presentes em muitos fins, pois o perder e chorar é diretamente proporcional ao ganhar e sorrir.

O fato da pessoa passar por uma perda significa que por um período, breve ou longo, viveu algo muito bom e talvez por isso seja tão sofrido deixar ir embora. Mas perceber esta verdade não deve nos entristecer, pelo contrário, tal constatação nos convida a dar valor, a apreciar e a usufruir mais das experiências, pessoas e coisas que temos no aqui e agora. Nos ensina a viver de forma mais genuína e não apenas a existir, permitindo que possamos exclamar quando o fim chegar: “Eu vivi”.

De acordo com a tanatologia (estudo científico da morte e do morrer), há muitas lições a serem aprendidas em nossa jornada e quanto mais aprendemos, mais assuntos concluímos e mais plenamente vivemos, sendo as maiores lições as que decorrem das maiores dores. Aprender lições não significa tornar a vida perfeita, mas vê-la tal como ela é, alcançando a maturidade, usufruindo da riqueza do dia de hoje. Sobre esta valiosa lição da perda, diz a tanatologista Elisabeth Kübler-Ross:

“se a vida é uma permanente escola, a perda é uma das principais partes do currículo”;

“se você verdadeiramente quer aprender e crescer, é preciso compreender que o universo o matriculou no programa de pós-graduação da vida, que se chama perda”.

Elisabeth Kübler-Ross e David Kessler, depois de anos trabalhando com pacientes cuja morte era iminente, optaram por compartilhar as lições, uma delas a lição da perda, que aprenderam com estes que consideraram grandes mestres – pessoas comuns que enxergaram com clareza o significado da vida e o que ela pode nos oferecer de mais precioso. O texto a seguir é parte do último capítulo (Última Lição) do livro que escreveram: “Os Segredos da Vida”. Apreciem sem moderação.

“Escrevemos este livro para extrair as lições do limite da vida e oferecê-las às pessoas que ainda têm muito tempo para realizar mudanças e desfrutar os resultados.

Uma das lições mais surpreendentes que os nossos mestres oferecem é que a vida não termina com o diagnóstico de uma doença terminal. Ao contrário, é aí que ela começa mais plenamente. Ao reconhecer a realidade concreta da morte, os doentes compreendem que ainda estão vivos, que têm que viver a vida no agora porque, assim como nós, só têm essa vida agora. A principal lição que os que estão à beira da morte nos ensinam é viver cada dia o mais plenamente possível.

Quando foi a última vez que você realmente olhou para o mar? Ou sentiu o cheiro da terra molhada pela chuva? Tocou a penugem da cabeça de um bebê? Verdadeiramente saboreou e desfrutou da comida? Andou com os pés descalços na grama? Contemplou a noite estrelada? Deslumbrou-se com um nascer do sol ou da lua cheia? É sempre benéfico ouvir os que se aproximam da morte dizerem que querem olhar uma vez mais para as estrelas ou contemplar o oceano. Muitos de nós moramos perto do mar, mas nunca nos damos ao trabalho de contemplar seu movimento, a mudança das cores, o subir e descer das maré. Todos vivemos debaixo das estrelas, mas quantas vezes olhamos para o céu? Será que de fato tocamos e provamos a vida, vemos e sentimos o extraordinário que existe no ordinário de cada dia?

Existe um ditado que diz que sempre que um bebê nasce, Deus decidiu que o mundo vai continuar. Da mesma maneira, cada dia que você acorda é uma dádiva da vida para ser experimentada. Você tem a consciência de viver plenamente seu dia ou se deixa levar pela rotina ou pelos acontecimentos?

Você não vai receber outra vida como esta. Você nunca mais vivenciará o mundo exatamente desta maneira, com esses pais, filhos, familiares e amigos. Nem experimentará a terra com todas as suas maravilhas novamente neste período da história. Não espere o momento em que desejará dar uma última olhada no oceano, no céu, nas estrelas ou nas pessoas queridas. Vá ver agora.”

Seja feliz agora. Ame agora.

REFERÊNCIAS

KÜBLER-ROSS, E.; KESSLER, D. Os Segredos da Vida. Rio de Janeiro: Sextante, 2004.

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