Uma Reflexão sobre Autoconhecimento e Mudança
Autobiografia em 5 Capítulos
Capítulo 1
Ando pela rua
Há um buraco fundo na calçada
Eu caio
Estou perdido… sem esperança
Não é culpa minha
Levo uma eternidade para encontrar a saída
Capítulo 2
Ando pela mesma rua
Há um buraco fundo na calçada
Mas finjo não vê-lo
Caio nele de novo
Não posso acreditar que estou no mesmo lugar
Mas não é culpa minha
Ainda assim levo um tempão para sair
Capítulo 3
Ando pela mesma rua
Há um buraco fundo na calçada
Vejo que ele ali está
Ainda assim caio… é um hábito
Meus olhos se abrem
Sei onde estou
É minha culpa
Saio imediatamente
Capítulo 4
Ando pela mesma rua
Há um buraco fundo na calçada
Dou a volta
Capítulo 5
Ando por outra rua
O texto acima foi extraído do livro “O Livro Tibetano do Viver e do Morrer” de Sogyal Rinpoche (1999) e apoia-se na tríade: autoconhecimento - paradoxo - mudança.
De acordo com a Teoria Paradoxal da Mudança de Beisser, uma das teorias da Gestalt-terapia, a mudança ocorre quando a pessoa se torna o que ela é, ou seja, se conhece e se aceita. Ao entrar em contato genuíno com seu mundo interno, ela se transforma em outra pessoa, pois as mudanças vêm implícitas ao processo de autoconhecimento. Quando uma parte se modifica o todo também o faz (a gestalt se reconfigura) (PINHEIRO, 2014).
Diariamente, a todo instante, somos convidados a tomar decisões das mais simples às mais complexas: o que vamos tomar de café da manhã, que roupa vestir, por qual caminho seguir e por aí vai.
Nem sempre optamos pelo melhor caminho e tampouco conhecemos a realidade da situação ou identificamos que é nossa a responsabilidade pelo sofrimento advindo deste caminhar. Quanto mais alienados de nossos limites, menor capacidade temos de fazer frente ao nosso mundo e superarmos obstáculos.
Percebendo atentos que caímos em padrões repetitivos de comportamento, começamos a ansiar por nos libertarmos deles. Para isso é imprescindível sairmos da zona de conforto. Podemos, é claro, recair nos velhos hábitos muitas vezes, não abrindo mão daquilo que nos é familiar, mas a reflexão pode gradualmente ampliar a conscientização (dar-se conta), trazendo sabedoria e emergindo para novas possibilidades.
Quando tomamos consciência de quem somos, o que fazemos, para que fazemos, como fazemos e o que queremos, nos colocando em contato direto com o que está acontecendo no aqui e agora, nossas escolhas se tornam mais enriquecedoras. É então que a aceitação de si se torna imprescindível.
Identificar o que nos faz mal, o óbvio, e abrir os olhos e ouvidos para o que estamos fazendo com nossas vidas, nos capacita a integrar as partes desconectadas e construir uma realidade mais funcional. Aprender a evitar o “buraco na calçada” e “caminhar por outra rua” exige um período de retiro e autocontemplação profunda. Da mesma forma, saber onde se quer chegar é ferramenta necessária para ampliar o leque de atuação e traçar caminhos mais saudáveis.
REFERÊNCIAS
PINHEIRO, M. Teoria Paradoxal da Mudança. In: FRAZÃO, L. M.; FUKUMITSU, K. O. [Orgs.]. Gestalt-Terapia: conceitos fundamentais. 1 ed. Vol. 02. São Paulo: Summus, 2014. Cap. 10, p. 180-192.
RINPOCHE, Sogyal. O Livro Tibetano do Viver e do Morrer. Ed. Talento/Palas Athena: São Paulo, 1999.